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Marília de Camargo César fala sobre o processo de criação do livro 'Entre a cruz e o arco-íris'

Oct 01, 2013

Confira nesta entrevista com a autora de 'Entre a cruz e o arco-íris' os bastidores sobre a realização do livro.

1.    Como surgiu a ideia de fazer um livro sobre um assunto tão polêmico?

Marília: Eu estava à procura de um tema para um novo livro quando começaram a chamar minha atenção os constantes embates entre militantes LGBT e evangélicos na mídia. Isso foi bem antes de surgirem no cenário personagens controversos, como o pastor Marco Feliciano. Foi ainda no fim de 2010, na época da candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência da República, de quem tive a honra de escrever a biografia. Naquela fase, começaram a surgir em minha mente perguntas como: como será que é ser homossexual e evangélico? Será que existem muitos evangélicos gays ou esta é uma contradição em termos? Por que, afinal, as pessoas são gays? Elas nascem assim ou são assim socialmente construídas? Eram perguntas bem básicas e que passaram a me perseguir. A curiosidade por esse universo sobre o qual eu nada conhecia me levou a começar a pesquisar sobre o assunto. 


2.    Por que abordar um tema considerado tabu para a sociedade?

Marília: A princípio, fui movida por pura curiosidade, como, creio, o são todos os repórteres. Depois, ao contrário do que parece, percebi que se tratava de um ambiente humano onde havia muita dor, anonimato, pessoas feridas, abandono e abuso. Isso me motivou bastante. Tive a oportunidade de tratar do tema do abuso religioso em meu primeiro livro, "Feridos em Nome de Deus", que já vendeu cerca de 20 mil cópias e me permitiu entrar em contato com pessoas feridas pela religião. No caso deste novo livro, as histórias são completamente diferentes, mas no fundo, de certa forma, elas se tocam em alguns pontos.  


3.    Como foi feita a escolha dos entrevistados para o livro?

Marília: Como toda reportagem, você começa lendo muito a respeito do assunto e, já na internet ou nos livros, vai percebendo quem são as vozes relevantes que precisam ser ouvidas. Quanto aos personagens principais, os psicólogos foram muito importantes e me ajudaram a chegar aos homossexuais com as histórias de vida mais marcantes e que pareciam ter muito a acrescentar.   


4.    Quantas pessoas você entrevistou? Quem são elas?

Marília: Foram várias dezenas de pessoas, não sei informar o número exato. São gays cristãos que contam suas histórias – homens que abandonaram a prática homossexual por amor a Cristo, que se casaram e tiveram filhos, mas que assumem a própria homoafetividade; outros, que depois de lutarem duras batalhas para negar sua orientação sexual decidiram assumir-se e hoje frequentam igrejas inclusivas; outros ainda que sofreram tanto nessa luta interior a ponto de abandonar a fé. Além disso, entrevistei vários psicólogos, pastores de diversas denominações protestantes, pastores que professam a chamada teologia inclusiva, sociólogos, historiadores e os pais e mães dos homossexuais – que aliás renderam depoimentos muito tocantes.   


5.    Todos os entrevistados estão contemplados? Eles estão identificados pelos próprios nomes ou houve pedido de sigilo?

Marília: Algumas fontes não entraram, escolhi as histórias mais impactantes e que apresentassem diferenças entre si. Em apenas um dos casos, o de um jovem pastor, ele me pediu que mudasse o nome, temendo uma eventual repercussão negativa de seu depoimento. Em todos os demais, as pessoas concordaram em ter suas histórias narradas e os nomes publicados.   


6.    Você encontrou alguma resistência de suas fontes durante a apuração?

Marília: Encontrei resistência por parte de alguns pastores, lideranças respeitadas no universo evangélico, que se recusaram a dar entrevista para o livro por temerem posicionar-se a respeito desse tema, que realmente é muito espinhoso. Confesso que fiquei bastante desapontada com essas recusas, mas faz parte do trabalho ouvir alguns “nãos” de vez em quando. 


7.    Quais dificuldades você encontrou enquanto escrevia o livro?

Marília: Uma delas foi justamente essa descrita acima. Tive também alguma dificuldade para conseguir duas entrevistas que considero muito boas – a com o pastor Troy Perry, que fundou nos Estados Unidos aquela que é tida como a primeira igreja inclusiva do mundo, ainda no fim da década de 60, e que é considerado o principal líder desse movimento no país. Descobri que foi ele quem organizou a primeira parada gay de que se tem notícia, naquele mesmo período. Outra foi com o pastor americano Tony Campolo, uma voz moderada que faz um balanço contundente e muito equilibrado a respeito do posicionamento da igreja evangélica e da sociedade americana sobre esse assunto.    


8.    Algum caso narrado mais a impressionou?

Marília: Dois depoimentos me marcaram muito: o de um professor de inglês carioca que se tornou ateu, depois de ter sido pastor evangélico e líder de jovens numa igreja no Rio de Janeiro; e o de um pastor conhecido nacionalmente, que fez um desabafo emocionado sobre o dia em que seu filho mais velho admitiu ser gay.    


9.    Quanto tempo você trabalhou nesta obra? Como conciliou com seu trabalho como jornalista de um veículo diário?

Marília: Trabalhei durante dois anos na pesquisa. Como trabalho praticamente o dia todo numa redação de jornal, sobravam os fins de semana e as primeiras horas da manhã e, quando havia energia, algumas horas à noite. É bem cansativo, a família reclama, mas você acaba se acostumando.  


10. Você acha que a sociedade brasileira está preparada para uma discussão sobre homossexualidade e religião?

Marília: Acredito que as pessoas precisariam se informar mais sobre o assunto para fazer uma discussão fundamentada em fatos, e não em suposições. O tema está carregado de sofrimento oculto, de pré-conceitos, de ignorância, de pré-julgamentos de lado a lado. Há pouca tolerância e pouca disposição em ouvir o que o outro tem a dizer. Para os evangélicos, infelizmente, homossexualidade ainda é sinônimo de falta de caráter e de devassidão. E para a militância LGBT, infelizmente também,os evangélicos são ignorantes fanáticos que devem ser menosprezados apenas por professar sua fé nas Escrituras Sagradas. Há radicalismo de parte a parte e fica difícil reunir na mesma mesa esses debatedores. 


11. O que você espera conseguir com esse livro? 

Marília: Espero suscitar muitas dúvidas e levar as pessoas a rever conceitos que possam estar equivocados. Que o livro sirva para uma reflexão serena sobre o tema. Que as pessoas leiam as histórias e tentem, como se diz, vestir os sapatos do outro. Tomara que as histórias tão humanas e todo esse rico conteúdo ajudem o leitor a ajustar as lentes com as quais ele olha para os seus semelhantes.   


12. E você? A que conclusão chegou?

Marília: Esta é uma pergunta difícil. Não posso dizer que tenha resolvido todas as minhas dúvidas. Mas há alguns aspectos que posso destacar de toda essa matéria humana, rica e diversa. O fato é que há um grande número de pessoas em sofrimento por sua orientação sexual homoafetiva – que são chamados pela psiquiatria de egodistônicos. E esse sofrimento nem sempre está relacionado à fé cristã. Para estes, deve haver espaço de acolhimento e cuidado nos consultórios terapêuticos, sem promessas de “cura”, e isso está em linha com o que prevê a tão debatida resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia. A resolução, que causou tanta polêmica,  não proíbe esse “tratamento” dos que sofrem, mas é, na verdade, uma forma de evitar que os psicólogos cristãos utilizem o consultório como púlpito, tentando “converter” pacientes, o que é obviamente antiético.  Outro ponto a ser destacado está no campo teológico. As diferentes interpretações dos textos bíblicos deveriam ser debatidas de forma respeitosa e elegante, sem desqualificar aquele que pensa diferente de nós, pois sempre haverá leituras distintas e releituras, como ocorre hoje com a chamada teologia inclusiva. Gosto muito de uma passagem da carta do apóstolo Paulo aos Romanos. Havia na ocasião um debate sobre se o judeu recém-convertido ao Evangelho estaria liberado de guardar o sábado e de se abster de alguns tipos de alimentos. Era na verdade uma discussão profunda que contrapunha a lei judaica à  graça pregada por Jesus Cristo. Paulo diz assim aos romanos: “Digamos que alguém pense que determinados dias devem ser considerados sagrados, enquanto outro pensa que todos os dias são iguais. Há boas razões para cada opinião. A verdade é que cada um é livre para seguir as convicções da consciência.” (Romanos 14-5-pela tradução A Mensagem). Ele mostra que existe um espaço de liberdade de escolha, mas em seguida ele nos lembra que cada um de nós prestará contas a Deus pelas escolhas que fazemos. 

Paulo também afirma, no mesmo capítulo: “Cultivem o relacionamento com Deus, mas não o imponham aos outros. Vocês serão felizes se seu comportamento e sua fé forem coerentes” (Romanos 14.22). Existe aí um chamado à coerência, e isso vale para homossexuais e heterossexuais. A coerência entre a convicção de fé e a sua prática, a mansidão, a gentileza e a preocupação com a vida do próximo devem ser marcas do viver cristão. E isso vale para todos, homossexuais e heterossexuais.

Para mais informações sobre Entre a cruz e o arco-íris, clique aqui.

 

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