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A formação de alunos autônomos

by Katia Saisi last modified May 04, 2011 12:49 PM

Artigo de Ana Maria Falcão de Aragão, sobre conferência apresentada nos Seminários SM de Educação, realizados em abril de 2011 nas cidades de Volta Redonda (RJ), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Belo Horizonte e Uberlândia (MG).

Sabemos que todos nós temos em comum favorecer a formação de alunos autônomos, críticos, cooperativos, conhecedor de seus direitos e deveres, virtuosos, que saibam tomar decisões e assumir responsabilidades, equilibrados emocionalmente, competentes, saudáveis, que estejam aptos para viver em sociedade e atuar no mercado de trabalho, que sejam capazes de pensar, refletir e relacionar-se de modo afetivo e cognitivo com as demais pessoas, que se tornem seres humanos dignos, responsáveis, respeitosos, justos e igualitários.

Pretendemos tecer considerações para aqueles educadores que compartilham conosco os objetivos de formar pessoas autônomas intelectual e moralmente. Todavia, é imprescindível refletir se, apesar de estarmos munidos de boas intenções e nobres objetivos, estamos realmente conseguindo formar essas pessoas. Será que nosso modelo pedagógico assim como o ambiente sociomoral que proporcionamos para nossos alunos são coerentes com nossos objetivos? Será que a forma como lidamos com os conflitos se harmoniza com nossas metas?

A forma como a escola lida com as situações de conflitos, indisciplina, violência e hostilidades contribui para a formação de pessoas mais justas, mais humanas, mais críticas e autônomas ou apenas serve como contenção de comportamentos colaborando, a médio e longo prazo, para um aumento dessas situações? Será que os procedimentos usualmente usados nas escolas, como a exclusão, a punição, os encaminhamentos para coordenação/direção ou famílias melhora a convivência escolar? Como o adolescente é visto pelos educadores? Qual o real conhecimento dos educadores sobre o desenvolvimento dos alunos/adolescentes?


 "Apenas o conhecimento sobre o desenvolvimento do adolescente não é suficiente para subsidiar a prática educacional e formar personalidades éticas"


A adolescência marca o início de um período de vida no qual aparece maior número de preocupações interpessoais e maior consistência entre o juízo moral e a ação. O que contraria o senso comum, que, geralmente, atribui a essa fase um esvaziamento de sentido. O que ocorre não seria falta de sentido, mas, sim, um sentido egocêntrico, típico do adolescente. O pensamento formal possibilita ao jovem não apenas conceituar seu pensamento, como também conceituar o pensamento de outras pessoas. Sendo assim, o jovem inicialmente se preocupa consigo mesmo, não fazendo distinções entre o que os outros pensam e suas próprias preocupações. É comum observarmos as reações dos jovens frente à postura dos educadores como algo pessoal e não pedagógico (não que em algumas situações realmente não seja pessoal) como, por exemplo, quando um professor chama a atenção de apenas um aluno na frente de toda a classe. A reação do aluno, neste caso, tende a ser negativa, posicionando-se contra o professor e alegando que é sempre ele o culpado de tudo, mesmo quando isso não seja retrato da verdade.

Sendo o período do início da adolescência o momento em que os educadores enfrentam maiores problemas de indisciplina e de violência na escola, o conhecimento sobre essa fase deveria ser a premissa do trabalho de qualquer escola que atue com alunos dessa faixa etária. Mas, apesar de fundamental, apenas o conhecimento sobre o desenvolvimento do adolescente não é suficiente para subsidiar a prática educacional e transformar ambientes mais autocráticos em cooperativos e justos e, por conseguinte, formar personalidades éticas.

Analisando o professor quando se depara com situações de indisciplina, conflitos e violência, evidencia-se seu sofrimento e suas incertezas na forma de agir e reverter a situação, transformando as relações em mais respeitosas e justas dentro do ambiente escolar. Construir um ambiente cooperativo, mais humano e sensível em relação às questões morais pode contribuir para a melhoria nas relações interpessoais na escola.  Mas, para que esse ambiente seja possível, é preciso conhecer as reais causas que afetam as relações entre alunos, entre alunos e professores e entre alunos e as atividades escolares propostas. 


  "A agressividade responde bem a programas de intervenção" 


Oferecer informações acerca de algum objeto do conhecimento, seja ele de cunho sociomoral ou não, apesar de ser necessário, não é condição suficiente para que este se torne valor para o sujeito. Existem os valores morais e os não morais. Os primeiros são aqueles ligados a princípios como respeito, justiça, solidariedade, cooperação etc. Costumamos dizer que estes princípios estão bem explicitados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Já os valores não morais são aqueles que não estão ligados a um princípio, mas que também são carregados de afeto pelo sujeito, tais como: ter uma determinada roupa de grife, usar um boné diferente, ser bem sucedido profissionalmente etc. Ou seja, pode haver um conflito entre os quereres, mas desejar algo não pode ser encarado como errado. Assim, um aluno pode até desejar profundamente ter um celular de última geração como aquele que tem o seu colega, isto não é errado. O problema é o que ele faz para conseguir seu intento: furtar, fazê-lo, apostar, ou seja, passar a perna para que ele consiga o que deseja.

Temos afirmado que a agressividade responde bem a programas de intervenção. A criança precisa aprender alternativas à violência na resolução de conflitos. Se quisermos que ela deixe de resolver seus problemas apenas usando a força física, devemos buscar lhe ensinar outras alternativas para que ela seja capaz de optar por uma solução que seja justa e respeitosa para ambas as partes. Conflitos interpessoais são ótimas oportunidades para trabalharmos valores e regras com os alunos, pois eles nos dão pistas sobre o que eles precisam aprender.

Temos visto na escola, frequentemente, que os conflitos são vistos como negativos, nocivos. Tal concepção evidencia-se porque, em geral, os esforços são direcionados para evitá-los ou para que sejam resolvidos rapidamente. É comum e desejável que, nas situações em que o aluno mente, agride, furta, desrespeita, não compartilha algo ou é mal-educado, o adulto ensine a ele a importância de não cometer tais atos. A questão é como o adulto o faz. Se quisermos que ele cumpra as normas, é preciso nos valer de procedimentos coerentes, o que nem sempre ocorre.


  "As mudanças de práticas de alguns professores e as transformações de outros são resultado de construção coletiva" 


Existem procedimentos educativos que funcionam a curto prazo, considerados como formas de educar para o presente, e outros que visam o futuro, que educam a longo prazo. Geralmente, a maneira que a escola ou mesmo os pais intervêm nos conflitos resolve o problema (deles) momentaneamente e traz embutidos ensinamentos contrários ao que a maioria dos educadores gostaria que suas crianças ou jovens aprendessem. Assim como em algumas famílias, na escola tradicional é comum, quando há desavenças entre as crianças ou entre elas e o adulto, que se empreguem procedimentos que resolvem o problema temporariamente, mas que não educam.

Para finalizar, podemos apontar que as mudanças de práticas de alguns professores e as transformações de outros são resultado de construção coletiva, da reflexividade, da elaboração de estratégias de ensino, da compreensão dos processos de aprendizagem das crianças e jovens e, fundamentalmente, do entendimento do próprio desenvolvimento pessoal e profissional que devem se constituir no diálogo, em debate, em acordos e conflitos, para que produzam novas possibilidades de compreensão da dinâmica reflexiva.


Ana Maria Falcão de Aragão é graduada em Psicologia pela PUC-Campinas. Doutora e livre-docente em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizou estágio pós-doutoral pelo Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da Universidade de Aveiro (Portugal) e atualmente é professora-adjunta da Unicamp. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Educacional, atuando principalmente nos temas: formação de professores, processo ensino-aprendizagem, psicologia educacional, gestão de conflitos, indisciplina escolar e atuação do psicólogo escolar. Foi conferencista nos Seminários SM de Educação, realizados em abril de 2011 nas cidades de Volta Redonda (RJ), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Belo Horizonte e Uberlândia (MG). Para conhecer outras iniciativas de Edições SM em prol da educação, visite o site: www.edicoessm.com.br.


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