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Estratégias inspiradoras para professores protagonistas

by Katia Saisi last modified May 04, 2011 12:59 PM

Artigo de Luca Rischbieter, sobre conferência apresentada nos Seminários SM de Educação, realizados em abril de 2011 nas cidades de Vitória (ES), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e São Luís (MA).

Nos últimos anos, o tema de protagonismo vem se tornando conhecido dos educadores, quase sempre associado a um conjunto de atitudes e valores dos jovens que deve ser reconhecido e estimulado no âmbito da ação pedagógica.

Ser protagonista implica em desenvolver uma visão crítica sobre a realidade, atuar proativamente, empreender, formular projetos de vida, reconhecer-se como voz ativa na sociedade e saber que é possível transformar o mundo.

Mas, o protagonismo não é uma postura a ser buscada apenas por adolescentes. Ao contrário, cada vez mais o desenvolvimento da educação nos mostra que precisamos de professores protagonistas. Não no sentido do dicionário, ou seja, daquele que ocupa o lugar principal.

Professores protagonistas não são os que estão no centro do palco, mas os que se posicionam como líderes do processo pedagógico, que focam seu trabalho na efetiva aprendizagem do aluno e não se prendem às limitações externas para alcançar seus objetivos. Isso significa, também, desenvolver propostas didáticas diferenciadas, que fogem da rotina, surpreendem, desestabilizam e levam aos alunos a novos patamares de desenvolvimento.

Abaixo, sem lançar mão de receitas que são frágeis frente à complexidade dos contextos em que os educadores atuam, proponho sete ideias para que os professores protagonistas possam inspirar – sempre mais.

1 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que se preocupa com o ambiente relacional da escola e com a qualidade das interações dos adultos com os jovens.

Exemplo de professora protagonista: Deborah Meier, diretora de uma escola pública de Ensino Médio em Nova Iorque que, ao copiar os princípios de boas escolas de Educação Infantil, obteve resultados de aprendizagem espantosos.

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):
Ah, bons tempos em que chamávamos as professoras de “tias”...

Para refletir:
Por que, no mundo inteiro, a escola está em crise? A resposta do sociólogo da educação Philippe Perrenoud:

“Pede-se à escola que instrua uma juventude cuja adesão ao projeto de escolarização não está mais garantida.” (Em: Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. p. 15.)

2 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que abre mão de ser o centro das atenções.

Exemplo de professor protagonista: Célestin Freinet e uma pedagogia para o século XXI antes de 1930.

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):

 “Quem não se comunica se trumbica...” (Chacrinha)

Para refletir:
Em 1932 o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por personalidades como Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Cecília Meireles, pedia que cada sala de aula, em todos os níveis de ensino, passasse a funcionar como uma comunidade em miniatura, e que a própria escola se abrisse seletivamente para interações com a vizinhança, com outras escolas e com outros lugares, passando a ser um ambiente dinâmico em íntima conexão com a região e a comunidade. Oitenta anos depois, a importância dessas ideias é ainda maior...

3 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que incentiva o faz de conta e a imaginação.

Exemplo de professor protagonista: Lev S. Vigotski – “O Mozart da psicologia”

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):

Professores(as) de todos os níveis de ensino que recorrem à dramatização conseguem mais envolvimento e mais aprendizagem.

Para refletir:
Um exemplo: o ensino do conceito de “fotossíntese” pode ser muito mais significativo se propusermos atividades de “dramatizar folhas se alimentando da luz do sol”. Longe de desviar a atenção sobre a aprendizagem do assunto, dramatizar árvores fazendo fotossíntese, antes e depois de ter aulas sobre esse conceito, pode ajudar cada estudante a construir a noção de que as plantas têm a capacidade de construir sua própria matéria a partir de “ar”, a partir do gás carbônico. Se essa idéia é válida para um conceito importante da biologia, não se aplicaria a inúmeros outros conceitos, de todas as disciplinas, até mesmo no Ensino Médio?

4 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que não apenas fala, mas também escuta.

Exemplo de professora protagonista: Sylvia Ashton Warner, ”Paulo Freire de saia”.

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):
Uma sala de aula não deve ser apenas um espaço em que professores(as) dão aulas...

Para refletir:
Desde o final dos anos 1980, pesquisadores chama a atenção para um grande número de casos de crianças e adolescentes “de risco” que tornaram-se adultos com uma vida pessoal e profissional exemplar, e feliz. Por exemplo, em 1987 foram publicados os resultados de uma pesquisa nos EUA que acompanhou ao longo de cinquenta anos um grupo de 11 crianças que viviam situação de risco. Veja o resumo feito por um pesquisador francês:

“No início da observação, todos eles estavam alterados. Na adolescência ainda existiam grandes fatores de risco, sobretudo no plano afetivo e social, mas víamos se organizar na maior parte deles fatores de resiliência: alguns se tornavam independentes, dotados para a relação, a criatividade e o humor.Muitos adolescentes, apesar de uma infância imunda, se preocupavam muito com ética, provando a que ponto a repetição não é uma fatalidade. Por volta da idade de 45 anos, oito dessas 11 crianças haviam se tornado adultos completos. Os três que fracassaram não foram aqueles que haviam sido mais agredidos, mas aqueles que, muito isolados, tiveram menos apoio.”  (traduzido de: Boris Cyrulnik. Um merveilleux malheur. Paris: Odile Jacob, 1999. p. 17.)

5 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que sabe que existe um mundo fora dos muros da escola e que também leva isso em conta ao pensar suas práticas.

Exemplos de professoras protagonistas: Algumas educadoras de creches públicas, atuando em áreas pobres de nosso país.

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):

Os currículos de cada disciplina não precisam liderar sempre, o tempo todo, o que acontece nas salas de aula.

Para refletir:
Em um livro lançado nos EUA em 2009, dois pesquisadores discutem os problemas da escola de Ensino Médio e perguntam, de forma irônica:

“Por que é que o engajamento dos estudantes na aprendizagem não pode ser provocado mediante tópicos relevantes para sua vida, em que eles investigam, em vez de apenas ficarem ouvindo o professor narrando materiais curriculares pré-formatados? Será que a aprendizagem altamente motivada corrompe a juventude, enquanto que chatear-se forja-a na fornalha do sofrimento?” (Traduzido de: Shlomo Sharan e Ivy Geok Chin Than. Organizing schools for productive learning. Nova Iorque: Springe Science, 2009, p. 17.).

Em qualquer nível de ensino, eleições, competições esportivas ou terremotos são exemplos de temas que ganham as manchetes e que despertam grande interesse. Por isso mesmo, assim como um sem-fim de temas relevantes para a vida dos(as) estudantes, eles podem motivar projetos de pesquisa e de aprendizagem importantíssimos, mobilizando diferentes conceitos disciplinares a medida que evoluem de forma imprevisível.

6 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que incentiva seus estudantes a dialogar entre si, a tomar decisões e a criar regras coletivamente.

Exemplo de professor protagonista: Anton S. Makarenko e adolescentes delinquentes fabricando lentes de alta qualidade e vendendo até para os alemães!

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):

Cada professor(a) deveria perguntar-se: “Estou ajudando a formar para a democracia?”

Para refletir:
Três frases de Piaget, em 1932, sobre a formação para a democracia:

“A criança, quando não está como na escola condenada à guerra contra a autoridade, é capaz de disciplina e de vida democrática.”

“O problema é saber o que vai preparar melhor a criança para seu futuro papel de cidadão. Será o hábito da disciplina exterior adquirido sob a influência do respeito unilateral e da coerção adulta, ou será o hábito da disciplina interior, do respeito mútuo e do autogoverno?”

“Nós vimos que as crianças eram capazes de democracia: vale a pena utilizar essas tendências infantis em vez de deixá-las se perder ou dirigi-las contra a autoridade adulta, como é tão frequentemente o caso na vida do colégio e nos devaneios da adolescência.” (Jean Piaget. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994. pp. 270, 271 e 273)

7 – PROTAGONISTA é o(a) professor(a) que não tem medo das novas tecnologias.

Exemplo de professor protagonista: O melhor amigo de Freinet, produzindo vídeos com filhos de pescadores, em 1927!

Uma frase para desafiar o(a) professor(a):

Telefones celulares devem ser vistos como aliados do(a) professor(a), e não como inimigos

Para refletir:
Veja três exemplos de novos caminhos que as novas tecnologias nos permitem vislumbrar para a escola de Ensino Fundamental e Médio:

- A digitalização permite que estudantes tenham portfólios virtuais, que abrem perspectivas incríveis para novas formas de avaliar.

- Já temos registros de milhares de professores(as) de Ensino Fundamental II e de Ensino Médio que criaram blogs pessoais, com dicas para seus estudantes, e viram mudanças surpreendentes no nível de engajamento e nas aprendizagens.

- As novas gerações de “pós-telefones” celulares abrem perspectivas espetaculares, pois eles são “superlápis”, “superlivros” e “supermáquinas de registro e de comunicação”.

 Dicas para usar o celular (Folha de S.Paulo - Caderno Saber - 27/10/2010)
(Folha de São Paulo – caderno Saber – 27/10/2010)

 


Luca Rischbieter é pedagogo e geógrafo, com mestrado na área da didática da Matemática, criador e consultor pedagógico para desenvolvimento de softwares educativos, novos artefatos, portais educacionais e para projetos com novas tecnologias. Foi conferencista nos Seminários SM de Educação, realizados em abril de 2011 nas cidades de Vitória (ES), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e São Luís (MA). Para conhecer outras iniciativas de Edições SM em prol da educação, visite o site: www.edicoessm.com.br.


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