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OPINIÃO | O teatro para além da representação da vida

Sep 18, 2013

Artigo do presidente da Liga do Desporto, Jean Gaspar, por ocasião do Dia Nacional do Teatro.

Jean Gaspar

No Brasil, comemora-se o Dia do Teatro em 19 de setembro. Internacionalmente, a data escolhida pelo Instituto Internacional de Teatro, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, é 27 de março.  O importante é a oportunidade de refletirmos sobre o papel das artes do espetáculo para a cultura e para a cidadania.

Em relação à sua origem, não se sabe exatamente quando o teatro surgiu. Mas certamente é uma das mais antigas formas de arte. Segundo estudiosos, no princípio, era uma manifestação de questões cotidianas, um rito de celebração e agradecimento. Tinha também um caráter de exorcização de maus espíritos. 

Sua popularização se deu na Grécia Antiga e tinha o intuito de representar lendas e mitos relacionados a heróis e deuses. Foi quando surgiu a comédia e a tragédia clássicas que se popularizaram até os dias de hoje. Naquela época, os atores representavam usando máscaras e, muitas vezes, havia cenário no local da apresentação. 

Sêneca, um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano, romanizou as personagens trágicas e deu-lhes a formação filosófica e retórica de seus contemporâneos. Shakespeare levou ao teatro inglês as manifestações humanas mais profundas, mantendo na tragédia o conflito que termina em catástrofe, além de criar os mais influentes personagens de toda história e é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Suas obras são carregadas de reflexões e permanecem tão relevantes quanto na época em que foram escritas.

Não só no Ocidente o teatro se faz presente. Outras civilizações antigas, como as do Egito, Índia, Japão, Coréia e China também se manifestavam por meio de representações em seus templos e encenavam com a finalidade religiosa de exaltar divindades de sua mitologia. 

Apesar de diferentes características dessas representações de cada povo, o papel era o mesmo: expressar sentimentos do ser humano frente à vida. O homem sempre teve a necessidade de representar suas tristezas, angústias e alegrias. Ao ver uma peça, o espectador sente o mesmo que o personagem, assim expurgando esses sentimentos. A isso damos o nome de catarse, ou seja, o meio no qual o homem purifica sua alma por meio da representação trágica.

A palavra "teatro" deriva dos verbos gregos "ver, enxergar", lugar de ver, ver o mundo, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e a sua relação com o outro. Na realização de cenas dramáticas destaca-se o exercício de fazer de conta, fingir, imaginar ser outro, criar situações imaginárias, etc. São atitudes essencialmente dramáticas criadas pelo homem para desenvolver habilidades, capacidades e provir sua existência. 

Atuamos todos os dias, em casa, na escola, no trabalho, assumimos papeis sociais constantemente em nossas vidas, como o de pai, mãe, filho, aluno, professor, de acordo com o ambiente. Somos personagens sociais reais. A atuação é o meio pelo qual nos relacionamos com o outro. O processo dramático é considerado um dos mais vitais para os seres humanos. O teatro estimula o indivíduo no seu desenvolvimento mental e psicológico. É também instrução, mas considerar isso como a essência teatral corresponde a desconhecer suas múltiplas manifestações. 

O teatro essencialmente tem uma função estética. Aristóteles, o primeiro a analisar e explicitar a composição narrativa, inicialmente nas tragédias gregas, desenvolveu o conceito de mimesis, deixando claro que a imitação e, não apenas a ação, é uma das paixões que movem o homem, modificando o entendimento da função de catarse que, por meio da identificação com a trama e seus personagens, o espectador seria capaz simplesmente de expressar seus sentimentos. Dessa perspectiva, o teatro permite que a plateia repense seu estar no mundo. 


 A cultura merece ter um patamar legislativo em São Paulo. 


Dada a sua importância social, as artes cênicas merecem atenção de nossos governantes e legisladores. A sociedade brasileira deve ser incluída na formulação das políticas públicas para as artes cênicas, musicais e visuais. 

Vimos, nos últimos anos, grandes avanços na área, como a reforma da Lei Rouanet, com o reconhecimento da responsabilidade do Estado para com a Cultura, que se deve traduzir em muitas ações estruturantes, mas, principalmente, no investimento de recursos próprios de seu orçamento para o financiamento da área. 

Comemoramos a previsão do deslocamento da base desse investimento que se concentrava exclusivamente no incentivo fiscal (mecenato) para o fomento direto (fundo orçamentário regido por editais), por meio de um Fundo Nacional de Cultura mais robusto e criterioso. Além da comemoração pela criação, em março deste ano, no Congresso Nacional, de uma Comissão para cuidar exclusivamente de Cultura, desvinculada da Educação. 

Mas ainda há muito o que se realizar para estimular a produção cultural nacional e local. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, entretanto, há uma única comissão permanente para as duas áreas. A cultura acaba ficando espremida frente à densa pauta da educação. Precisamos de uma Frente Parlamentar de Cultura, a exemplo do Distrito Federal, que deu origem a uma comissão de cultura permanente. A cultura merece ter um patamar legislativo em São Paulo. 

Que nossos legisladores coloquem-se acima das disputas partidárias e voltem seus olhos e atenções, nesse Dia Nacional do Teatro, à necessidade do estabelecimento de diretrizes e metas culturais para o Brasil em todas as esferas: federal, estadual e municipal. O setor cultural precisa sair do plano do supérfluo e ganhar a importância que lhe é devida.


Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é apresentador do programa Filosofia no Cotidiano (TV Cantareira) e presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania. 

 
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