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A informação como um ato de hospitalidade no ambiente virtual

Jan 04, 2006

Tudo começou com o artigo já publicado neste mesmo website sob o título: Hospitalidade virtual pode entrar que a home é sua! Tudo começou a ficar complicado na verdade quando a questão central tornou-se estudar o que seria a hospitalidade num ambiente virtual. Duas grandes áreas das ciências naturais, cujo elo encontrado inicialmente foi o bom e velho processo de comunicação com os componentes: o emissor, a mensagem e o meio, e o receptor, além da opinião. Parecia um bom ponto de partida para estudar e caracterizar a hospitalidade virtual.

Professor Waldir Ferreira, doutor em Relações Públicas, orientador do tema desta dissertação, elaborou uma conceituação sobre hospitalidade que veio auxiliar e corroborar com a importância do processo de comunicação como elo entre a hospitalidade e o virtual. É dele a seguinte proposta: “Hospitalidade é o conjunto de atitudes e reações humanas, de um relacionamento assimétrico entre quem acolhe e quem é acolhido que, por intervenção da informação e da comunicação dirigida [1], tem como propósito estabelecer, manter, promover, orientar e estimular um vínculo recíproco e solidário, para tornar possível a coexistência dos interesses visados”.

Assim, os estudos evoluíram neste sentido até que um fator perturbador estabeleceu-se por meio do contato com a teoria sobre o virtual, de Pierre Lévy, Até então, ele, o virtual, na abordagem da hospitalidade, era entendido e usado com base no senso comum, o qual o caracteriza como o oposto do real e originário da evolução tecnológica, associada somente à Internet ou ao ciberespaço.

Mas foi no texto do filósofo francês que a afirmativa “a imaginação, a memória, o conhecimento e a religião são vetores da virtualização que nos fizeram abandonar a presença muito antes da informatização e das redes digitais” (LEVY, 2003:20) levantou dúvidas sobre o uso da informação nas diferentes mídias, existentes antes das redes digitais ou da Internet, como catálogos, anúncios, comerciais de televisão, spots de rádio, também serem virtuais e que sua capacidade de virtualização está em seu conteúdo, em sua mensagem.

Ainda segundo Lévy (2003:15): “o real seria a ordem do tenho, enquanto o virtual seria a ordem do terás, ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização”. Conclusões: em comunicação do marketing, as promessas feitas por meio das mensagens seria uma forma de virtualização e a hospitalidade virtual pode ser usada em qualquer situação e não só como sinônimo do ambiente da Internet.

Uma outra preocupação foi a de como aplicar a tríade do dar, receber e retribuir, a qual caracteriza a ocorrência da hospitalidade num relacionamento, num contato, numa aproximação entre pessoas, o que ocorre fisicamente, olho no olho. Aplicado ao virtual, com ou sem a mídia da internet, isto parecia uma barreira conceitual a ser superada.

Quase em pânico e com a mente confusa, o contato com o texto do sociólogo espanhol Manuel Castells em A Galáxia da Internet, lançado em dezembro de 2003, pela Editora Jorge Zahar, rompeu, no meu entender, com a barreira física, já que ele afirma que a rede é a mensagem e que o uso da Internet como veículo de comunicação está levando a mudanças nas relações sociais. Para o tema da hospitalidade virtual isto soou como a união da tecnologia com o advento da internet rompendo não substituindo com a barreira do contato físico entre as pessoas. Que é possível sentir-se na presença de outrem mesmo tendo como intermediário o computador. É uma situação de fato e não de direito. Dito de uma outra maneira, não é necessário estarmos presentes o tempo todo com uma determinada pessoa para nos relacionamos com ela. Claro que o primeiro passo pode ser pelo computador e que nada substitui o contato humano, mas para se estabelecer a hospitalidade é possível que ela seja por meio da Internet e que tríade dar, receber e retribuir pode se dar integralmente via rede.

No artigo de Eric Eroi Messa [2] sobre o lançamento do livro de Castells, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, no caderno Informática, em 1° de dezembro de 2003, informa que o título do livro em questão faz uma alusão ao livro “A galáxia de Gutenbeng”, do canadense Marshall Mcluhan, onde este também relata a importância e as conseqüências revolucionárias do surgimento da impressão tipográfica. Mcluhan também disse em sua obra que o meio é a mensagem enfatizando a importância do veículo de comunicação e seu poder transformador das relações sociais. Ainda no artigo uma informação chama atenção quando o jornalista informa que um matemático do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Norbert Wierner havia dito que o padrão é a mensagem, fazendo referência  aos padrões de sons que o rádio emite ao transmitir a mensagem. “Padrões são formadores de uma organização e, assim, a organização é a mensagem”, escreve Éric Messa.

“O modelo de comunicação em rede, como a Internet, trabalha em tempo real, eliminando a distância física e é organizada de forma descentralizada, tornando-se um sistema ágil, superando os tradicionais sistemas organizados de forma centralizada. Este novo veículo de comunicação promove o surgimento de comunidades virtuais que começam a moldar as relações e as organizações”, é um outro trecho interessante do artigo que faz ponte com a hospitalidade virtual e a informação como seu principal indicativo de percepção de sua ocorrência.

Numa coincidência maravilhosa para quem está pesquisando um determinado assunto surge a reportagem sob o título: “Os marqueteiros da web”, escrito por Yves Eudes e publicado no Caderno Mais!, no jornal Folha de S. Paulo, em 1° de maio de 2005, o qual se inicia com o relato de um jovem, em Seatlle, Estados Unidos, que descobre que a tranca de sua bicicleta podia ser aberta com uma simples tampa de caneta. Um pouco irritado com a situação, o tal jovem decidiu informar o fato aos leitores de seu blog favorito, um jornal coletivo escrito em rede e que reúne aficionados da eletrônica. O jovem em questão era um técnico em eletrônica. Junto com a mensagem ele ainda anexou um vídeo onde demonstrava a facilidade da violação do dispositivo de segurança de sua bicicleta, ou seja, a tranca.

Em pouco tempo o blog se encheu de comentários. Dezenas de leitores donos de dispositivos semelhantes tentaram pelo mesmo método violar suas travas e conseguiram. Em poucas horas, ainda segundo o artigo, o vídeo já estava sendo alvo de discussão em fóruns, chats, clubes de ciclistas e associações de consumidores em toda a Europa e Ásia.

“A empresa produtora do tal dispositivo, pega de surpresa, reagiu publicando na internet um comunicado mal formulado, o que acabou por agravar a situação”, finaliza esta parte do artigo e aqui abro um parêntese para exemplificar como a informação pode ser um ato de hospitalidade no ambiente virtual.

Mais adiante todo o artigo se desenvolve afirmando que a internet se tornou um vetor de um boca a boca eletrônico, planetário e instantâneo, o chamado buzz. Que muitas marcas podem ser atingidas pelo buzz, negativamente como o caso da produtora do dispositivo de segurança da bicicleta ou positivamente como a maioria das empresas deseja.

A reportagem trata na verdade de como a “expansão da Internet tem levado à criação de empresas especializadas em induzir ou manipular potenciais consumidores em blogs, a fim de valorizar produtos e serviços e até propostas políticas” texto que caracteriza o olho da matéria, mas como recorte de interpretação quer parecer que cada vez se evidencia a questão da qualidade e origem da informação como um ato de hospitalidade. E se a hospitalidade está na tríade dar, receber e retribuir quer parecer que nos tempos modernos, na era da Internet, ela se reveste de um cunho de honestidade e credibilidade.

Notas

  1. Grifo nosso. 
  2. Eric Eroi Messa é professor da Faculdade de Comunicação – Publicidade e Propaganda – FACOM/FAAO e MBA profissional – Máster um Tecnologia Educacional – CECUR/FAAP.

Bibliografia

CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet – reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. São Paulo: Jorge Zahar, 2005.


DENCKER, Ada de Freitas Maneti e BUENO, Marielys Siqueira. Hospitalidade: Cenários e oportunidades (Orgs). São Paulo: Thomson. 2004.

DIAS, Celia Maria de Moraes (Org). Hospitalidade: reflexões e perspectivas. São Paulo: Manole, 2002.

EUDES, Yves. Os marqueteiros da Web. São Paulo: Folha de S. Paulo, Caderno Mais!, página 10, 1° de maio 2005

FRIEDLEIN, Ashley. Como gerenciar sites web de sucesso. São Paulo: Campus, 2003.

LASHLEY, Conrad e MORRISON, Alison (Org). Em busca da hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado. São Paulo: Manole, 2004.

LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 2003.

MESSA, Eric Eroy. Sociólogo reflete sobre a revolução da web. São Paulo: O Estado de S. Paulo, Caderno Informática, página I2, 1° de dezembro de 2003.

RADFAHRER, Luli. Design/web/design. São Paulo: Market Press, 2002.

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Maria José Rosolino é bacharel em Relações Publicas pela FAAP e Jornalismo pela Cásper Líbero. É mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi. Há 15 anos atua no mercado editorial. Foi por 10 anos gerente de marketing da Editora Scipione. Neste período, cursou o PEC (Programa de Educação Continuada), em Administração de Marketing, da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Atualmente, além de sócia-proprietária do Escritório de Comunicação Mazé Rosolino, coordena os cursos de Produção Editorial e Fotografia da UAM onde também ministra aulas de marketing editorial. Participa ainda da Universidade do Livro como docente do curso de Marketing Editorial.

Contato: [email protected]
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