Michel Vovelle explora as representações do purgatório entre os séculos XIII e a atualidade

Michel Vovelle, em As almas do purgatório ou o trabalho de luto, explora a relação que o Ocidente cristão manteve com os mortos do século XIII aos dias de hoje. Utilizando uma vasta sequência de imagens, iluminuras medievais, pinturas e retábulos barrocos, o estudo reconstrói a maneira como os homens deste período tentaram imaginar e gerir sua relação com o universo dos mortos, encerrando-os na misericordiosa prisão do purgatório, local de reclusão e de sofrimentos temporários. Análise que revela o esforço humano empreendido para conviver com os mistérios da morte e amenizar o trabalho de luto, o aspecto mais angustiante da nossa memória e que nos confronta com a presença invisível dos que nos precederam.

A representação figurada deste “terceiro local”, que rompe com a dualidade do paraíso reservado a poucos e o inferno com suas penas, está inscrita em três universos distintos: o discurso da Igreja, direcionado e controlador; o do artista, interpretado de acordo com suas regras, cultura e talento próprio; e, por fim, o de um “público” que, longe de ser um mero receptor passivo, condiciona e molda a expressão daquilo que está pronto ou desejoso de receber. Tais imagens são portadoras de um discurso específico, que possui sua própria dinâmica, sendo um instrumento mais móvel que o texto e antecipando o que será formulado por ele.

Desta maneira, a opção pelas fontes iconográficas leva a uma análise construída pela ótica da história das mentalidades. Segue-se aqui as mutações das visões que se tem sobre o purgatório ao longo dos séculos, desde o final do século XII, quando há uma profunda mudança de mentalidade e do imaginário coletivo em relação ao período medieval, até as construções imagéticas do cinema, da televisão e as histórias em quadrinhos do século XX. Tal multiplicidade de testemunhos não se restringem a exemplares esteticamente admiráveis, como obras de Rubens ou Tintoretto, mas resgatam momentos de devoção agora esquecidos, constatando a morte do próprio purgatório, que deixou de inspirar artistas e é recusada até mesmo pelo discurso da Igreja. 

Sobre o autor – Michel Vovelle é um historiador francês, especialista nos séculos XVII e XVIII. Professor Emérito na Universidade de Paris e antigo diretor do Instituto de História da Revolução, Vovelle é presidente da Comissão Internacional de História da Revolução, do Comité Internacional das Ciências Históricas. É autor de várias obras, como O Homem do Iluminismo, Ideologias e Mentalidades, Combates pela Revolução Francesa, entre outras. Pela Editora Unesp, publicou A Revolução Francesa explicada à minha neta.

Título: As almas do purgatório ou o trabalho de luto   
Autor: Michel Vovelle
Número de páginas: 343
Formato: 16 x 21 cm
Preço: R$ 65
ISBN: 978-85-7139-998-3

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