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(Re)lendo o mundo pelas histórias de vida: o Memorial do Assenamento 30 de maio

Dec 03, 2008

 

Realização: Escola de Ensino Fundamental Pio XII (Charqueadas - RS)

 

 

Resumo:

Este trabalho visa relatar a experiência pedagógica realizada nas disciplinas de Ciências Sócio-histórica e Sociolingüística com 22 educandos jovens e adultos do Assentamento 30 de Maio, ligado ao MST, que desde junho de 2006 até setembro de 2008, freqüentou o curso de ensino fundamental – séries finais, oferecido pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Pio XII. Contudo as aulas ocorriam na pequena escola de ensino fundamental incompleto São Francisco de Assis, localizada dentro do assentamento. Durante esse período de dois anos de estudo, uma das atividades pedagógicas realizadas por dois professores, foi a relatar e contar através da escrita, a história de vida de cada aluno assentado.

Justificativa:

O Assentamento 30 de Maio é o resultado da trajetória sócio-histórica de lutas e conflitos sociais, marcada pela incessante busca da conquista da terra como um direito do cidadão brasileiro garantido pela constituição federal brasileira. Um grupo de famílias de agricultores sem terra se organizou durante três anos em acampamentos de beira de estrada conhecidos como as “cidades de lona preta” até constituir-se em um assentamento rural no município de Charqueadas com 48 famílias assentadas. A partir daí, as famílias camponesas organizaram o seu trabalho de forma coletiva e solidária, demonstrando capacidade de organização e sobrevivência através da produção agropecuária. Este grupo de agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) atravessou muitas adversidades para consolidar-se como sujeitos históricos e para serem reconhecidos como agricultores que se utilizam da terra para dela tirar o seu sustento e para contribuir com o município de Charqueadas e região carbonífera na esfera do desenvolvimento local sustentável e da economia solidária, através da produção de gêneros alimentícios livres de agrotóxicos como o arroz, o milho, ovos, frutas, legumes, verduras, queijo, mel, pães, leite e carne, bem como, através de atividades culturais promovidas pelo próprio assentamento, como confraternizações, místicas, atividades religiosas, torneios esportivos, formação política e cultural.

No ano de 2006, 22 assentados decidiram voltar aos estudos depois de longos anos afastados da vida escolar. Com muitas dificuldades foram retomando e re-aprendendo e sistematizando e ressignificando saberes. Uma das atividades pedagógicas por eles realizadas foi o registro de suas histórias de vida. Através delas, puderam compreender melhor suas trajetórias marcadas por incessantes lutas e conflitos pela posse da terra.

Filhos de pequenos agricultores, que encurralados pelo modelo econômico e agrícola excludente, estes 22 agricultores se desafiaram a escrever suas histórias de vida, foram obrigados a deixar suas famílias na região norte do Rio Grande do Sul e, organizados através do MST, foram pressionando o Estado pela desapropriação de terras a fim de assentar as famílias sem-terra. Suas famílias passaram por quatro anos de penosas lutas e sofrimento, acampados na beiras das estradas do Rio Grande do Sul, entre os anos de 1987 e 1991. Suas principais formas de luta foram, as ocupações em terras improdutivas e grandes caminhadas.

A década de 80 foi um período de efervescência dos movimentos sociais, sobretudo com o término da ditadura militar e a abertura política caracterizada pela redemocratização sobretudo dos partidos políticos. Motivados pela luta de uma vida mais digna e com mais justiça social e a conquista de sua própria dignidade enquanto seres humanos, agricultores sem terra foram se organizando com o apoio de setores da Igreja católica, através dos agentes de pastoral ligados à Teologia da Libertação. Então muitos agricultores visualizavam no MST uma alternativa para resolver de forma organizada um de seus maiores problemas: a falta de um pedaço de terra para plantar.

Foram longos os quatro anos (1987 a 1991) de enfrentamento permanente contra o latifúndio e o Estado, pela falta de políticas eficazes na implementação da Reforma Agrária, permitindo assim que  os sem-terra identificassem quem eram os seus principais opositores. Isso fez com que até hoje as famílias do Assentamento 30 de Maio  tragam as cicatrizes e as marcas de resistência dos conflitos que ocorreram naquela época. Os confrontos mais conhecidos da sociedade, envolvendo as famílias que hoje formam o Assentamento 30 de Maio, foram a ocupação e posteriormente o massacre da Fazenda Santa Elmira e a ocupação da Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, no centro de Porto Alegre. Outro grande motivo que mantinha os agricultores sem terra na luta pela Reforma Agrária foi a sua vocação enquanto agricultores, pois os mesmos sabiam e queriam trabalhar com a terra, já tinham um vínculo identitário com a terra, desde criança, trabalhando na lavoura junto com seus pais. E durante o período de acampamento, o principal objetivo dessas famílias era a luta pela terra. Esse foi um período de muita aprendizagem por parte dessas famílias, pois segundo eles, o MST foi, e é sua melhor escola no sentido da cooperação e da organização das famílias que já ocorria no acampamento.

Uma vez assentadas em 30 de maio de 1991, as 48 famílias passaram a se organizar de forma coletiva, com base nas experiências de cooperação agrícola de outros assentamentos. Buscaram compreender melhor como cultivar e produzir na terra, e, decidiram que juntos poderiam facilitar as economias e adquirir os meios de produção, (bois, carroças, máquinas agrícolas e implementos) estruturando-se minimamente para iniciar a produção agrícola e melhorar suas vidas. A cultura e prática de produção do assentamento na época, eram baseadas no sistema imposto pela revolução verde. O MST buscou essas experiências internas e externas em países socialistas que já haviam desenvolvido alguns tipos de cooperação agrícola como a Nicarágua, China e Cuba.

A Cooperação Agrícola permite o acesso ao capital e à tecnologia; desenvolvimento da produção; aumento da produtividade do trabalho através da organização social; especialização e qualificação da mão-de-obra; a possibilidade de agregar valor aos produtos, através do beneficiamento e agro-industrialização de derivados de carne, leite, frutas e verduras; aplicação de créditos mais adequada da cadeia produtiva; Criar melhores condições em infra-estrutura social básica como: energia elétrica, água potável, escola, agrovila e transporte.  A moradia é um elemento que aglutina as pessoas para a convivência social, desenvolvendo valores humanistas e socialistas.

O Associativismo e o cooperativismo no MST faz parte da estratégia dos assentados em romper a lógica da exclusão social, historicamente imposta pela sociedade  capitalista, dentro disso colocando a terra improdutiva nas mãos de quem nela trabalha, dando assim seu verdadeiro papel, produzir alimentos para à sociedade ao invés de servir de mercadoria. Na visão das famílias assentadas, a Reforma Agrária é viável e necessária para acabar com a fome e o desemprego na sociedade. Desta forma, a cooperação é uma saída, portanto  um ensaio de um novo tipo de sociedade pelo qual as comunidades devem buscar se organizar e também uma forma de libertar as pessoas do paradigma individualista imposto pela sociedade neoliberal.

A horta comunitária do Assentamento 30 de Maio nasceu com dois objetivos principais: a) atender a demanda de alimento das famílias; b) ser mais uma fonte de renda. No início funcionou com apenas uma estufa, no preparo dos primeiros canteiros e na a primeira colheita, mas aos poucos se foi aumentando o número de estufas, de acordo com a capacidade financeira e técnica dos agricultores assentados. No início da produção, a força de trabalho dos agricultores não era qualificada tecnicamente. A comercialização era feita de forma direta aos consumidores, através das feiras livres na cidade de Charqueadas e região. As mesmas desenvolviam um papel importante para o assentamento, pois marcou uma ligação direta entre a comunidade e as famílias assentadas, o que criou uma outra visão da comunidade em relação à Reforma Agrária. A área cultivada foi ampliada, chegando a 2 ha. de terra, com 29 estufas. Com a abertura do próprio ponto de vendas no centro de Charqueadas, a cooperativa do assentamento ampliou mais a divulgação dos produtos da Reforma Agrária e resolveu o problema do excedente da força de trabalho, conquistando uma regularidade no planejamento da produção. Hoje existe uma preferência pelo ponto de vendas, onde os trabalhadores urbanos (consumidores) procuram os produtos chamados de, "produtos dos colonos", pois sabem que são produtos coloniais e esse fator traz à idéia de estar consumindo um produto sadio/puro, sem veneno ou agrotóxico. Atualmente, toda a produção da horta da cooperativa do assentamento é orgânica.

Objetivos:

  • Refletir e recuperar a historia de vida de cada educando assentado, procurando sistematizar essas experiências em sala de aula. 
  • Conhecer e respeitar diferentes modos de vida, em diversos tempos e espaços, em suas mais diversas manifestações. 
  • Oferecer instrumentos que possibilitem ao aluno, questionar a sua realidade, identificando problemas sociais e refletindo a respeito de algumas de suas possíveis soluções, reconhecendo formas de atuação e organizações coletivas da sociedade civil. 
  • Procurar sistematizar as histórias de vida dos educandos a partir e sua inserção no MST e construir um Memorial do Assentamento 30 de Maio.

Metodologia:

  • Objetivos e importância da reflexão e dos registros escritos sobre a historia de vida;
  • Reflexão sobre o que contam os livros didáticos de história: quem realmente faz, constrói e reconstrói a história;
  • Criação de roteiro para sistematização das historias de vida;
  • Sugestão de formas que possam ser úteis na recuperação da historia de vida: desenhos, gravuras, fotos, cartazes, cartas, narrativas, poesias, etc.
  • Comparar e agrupar historias.
  • Descrição do lugar de origem, porque veio, em que década, etc...
  • Construção de uma tabela com dados da região de origem dos alunos;
  • Construção de uma linha do tempo comparando acontecimentos pessoais da histórias de vida com fatos importantes que marcaram a história a nível regional, estadual, nacional e internacional.
  • Marcar no mapa do Rio Grande do Sul, a trajetória percorrida pelos alunos ate chegar em Charqueadas.

Embasamento teórico que orientou o trabalho:

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1979.

KENSKI, Vani Moreira. Memória e ensino. In: Cadernos de pesquisa. São Paulo N. 90 (ago. 1994).

QUINTANA, Mário. Antologia Poética. Porto Alegre - RS: L&PM, 1997.

Potencial de impacto (mudanças que almeja)

O trabalho pedagógico realizado a partir das histórias de vida dos educandos, buscou despertar uma maior conscientização e compreensão das múltiplas realidades que cercam o aluno assentado, bem como recuperar os fatos e acontecimentos históricos que marcaram sua trajetória e foram constituindo sua trajetória identitária de sujeito “sem-terra”. Com a compreensão desta totalidade, os professores incentivaram os alunos a criarem um Memorial do Assentamento 30 de maio, através de fotos e objetos que pudesse contar a história de vida coletiva, das 48 famílias que hoje constituem o assentamento.

Dessa forma, alunos e professores decidiram, de forma coletiva, escrever e encaminhar um projeto de criação de um Memorial para o Assentamento 30 de Maio, que foi encaminhado ao Fundo Municipal de Cultura de Charqueadas e contemplado com uma verba de R$6.000,00 para a constituição do mesmo. A justificativa para a construção do Memorial do Assentamento está balisada na idéia de que o patrimônio cultural, os monumentos, museus e memoriais históricos podem ser encontrados para além dos espaços urbanos. Nas áreas rurais há todo um Patrimônio Cultural, vivo e dinâmico em suas tradições, que na maioria das vezes não é reconhecido como tal pela maioria da população e pelos que vêm de fora. Pelo fato de não existirem museus, memoriais ou grandes monumentos nessas localidades, ou por não terem sido marcadas e celebradas por episódios da história nacional, é comum se pensar que é preciso sair daquele lugar para buscar o conhecimento e a experiência do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural.

Nesse sentido, um Memorial Histórico, além de se constituir em um exercício de interrogação de nossas experiências passadas para fazer aflorar não só recordações e lembranças, mas também informações que confiram novos sentidos ao nosso presente, podem ser considerado um poderoso instrumento de trabalho para professores e agentes de cultura e educação no meio rural, como recurso para a recuperação da auto-estima das comunidades, do resgate da memória coletiva, e da percepção e reconhecimento dos valores locais.

Segundo Ecléa Bosi (1979), através da memória, não só o passado emerge, misturando-se com as percepções sobre o presente, como também desloca esse conjunto de impressões construídas pela interação do presente com o passado que passam a ocupar todo o espaço da consciência. A forma como encaramos certas situações e objetos está impregnada por nossas experiências passadas.

Nesse contexto, não é possível existir presente sem passado, ou seja, nossas visões e comportamentos estão marcados pela memória, por eventos e situações vividas. De acordo ainda com essa autora, o passado atua no presente de diversas formas. Uma delas, chamada de memória-hábito, está relacionada com o fato de construirmos e guardarmos esquemas de comportamento dos quais nos valemos muitas vezes na nossa ação cotidiana.

Assim, o projeto do Memorial do Assentamento 30 de Maio, tem como objetivo, se cristalizar no resultado de uma narrativa da própria experiência das famílias que constituem o Assentamento 30 de Maio, retomada a partir dos fatos significativos que vêm à lembrança. Construir um Memorial consiste, então, em um exercício sistemático de escrever e registrar a própria história, rever a própria trajetória de vida e aprofundar a reflexão sobre ela, como um exercício de auto-conhecimento.

No processo de rememoração temos a possibilidade de refletirmos sobre nós mesmos, sobre nossas histórias individuais e coletivas, nosso percurso de vida. O trabalho com a memória é “formativo”, pois proporciona transformações e re-direcionamentos no seu caminhar, mudando a forma como as pessoas compreendem a si próprias e aos outros. Desta forma, transforma-se num processo de teorizar a própria experiência.

Entende-se que o Memorial tem uma função pedagógico-formativa na medida que o seu processo de elaboração e re-elaboração ao longo da história do Assentamento - como um exercício contínuo e gradativo – auxiliará as famílias assentadas no desenvolvimento e na articulação dos nexos entre a sua vivência de atuação social e sua trajetória histórica de modo a gerar uma interpretação crítica de suas experiências de vida e da própria realidade que as cerca.

Para Kenski (1994) o trabalho de rememoração realizado junto aos sujeitos sociais de uma determinado grupamento social pode trazer pistas importantes sobre sua atuação na sociedade, fornecendo elementos para a compreensão dos vários aspectos constitutivos de sua história de vida. O trabalho da memória é uma alternativa possível para o processo de formação dos agricultores assentados, ou seja, o uso didático da memória de vida na dimensão pedagógica ou história tem se revelado num interessante instrumento de formação, o que já foi realizado com êxito durante os dois anos em que vinte e dois agricultores – homens e mulheres- do assentamento se desafiaram a si próprios e, depois de longos  anos afastados dos bancos escolares, voltaram a freqüentar o curso de Educação de Jovens e Adultos para concluir o ensino fundamental. Esse momento de encontros pedagógicos nas aulas de ciências sócio-históricas e sociolingüísticas  foram essenciais para desenvolver um trabalho de história baseado nas histórias de vida destes sujeitos sociais, até surgir a idéia coletiva da construção do Memorial do Assentamento 30 de Maio. Essa proposta foi discutida e debatida, pois além de contar suas histórias e trajetórias de vida, sua execução poderia trabalhar no resgate da identidade coletiva do Assentamento.

Resultados imediatos (esperados/alcançados)

No caso do Memorial do Assentamento 30 de Maio, tanto os 22 educandos que tiveram a idéia de deixar registrado suas memórias através da construção deste memorial, bem como famílias assentadas e também todos aqueles que visitarem este espaço cultural, poderão tomar consciência, a partir da exposição fotográfica, documental e, de objetos históricos, a que universo político-social a Mostra está se referindo; em que contexto sócio-histórico os fatos ocorreram, quem são os agentes sociais envolvidos no processo, o que desenvolveram em prol da comunidade charqueadense ao longo dos seus 18 anos de existência no município, suas principais contribuições sociais, culturais e econômicas, qual o envolvimento e o apoio recebido da comunidade de Charqueadas no início do Assentamento, quais as práticas e ações atuais desenvolvidas pelo Assentamento, seu envolvimento com o Poder Público e a comunidade em geral, etc.

As durezas, os sofrimentos e as alegrias destas famílias, via de regra, serão narradas através do Memorial como experiências e vivências. As lembranças de um tempo passado são revividas como fantásticas, como magníficas, como façanhas heróicas. É possível pensar que, no tempo em que foram efetivamente vividas, tais dores e dificuldades tinham um gosto um tanto mais amargo do que as manifestadas no ato de lembrar. No entanto, ao relatá-las, o vivido se transfigura, ganha cor, ganha outro sabor. “O passado é uma invenção do presente. Por isso é tão bonito sempre, ainda quando foi uma lástima. A memória tem uma bela caixa de lápis de cor” (Quintana, 1997). Lançar-se então à construção de um Memorial através do qual temos a oportunidade de registrarmos e re-fazermos um percurso específico de nossas vidas, pode ser uma maneira de encontrarmos outros finais para o processo de historicidade que está em pleno transcurso.

Perspectivas de continuidade e sustentabilidade do trabalho

O projeto do Memorial do Assentamento 30 de Maio, gestado pelos alunos durante o período em que escreviam suas histórias de vida, durante as aulas, pretende dar maior visibilidade à comunidade charqueadense e da região carbonífera, bem como, dos muitos grupos organizados da região metropolitana e do interior do Estado que visitam o assentamento semanalmente, como sindicatos, escolas, universidades, etc. Essa visibilidade se concretiza com o sonho da implementação do Memorial, pois através dele, o público visitante poderá expandir seu conhecimento sócio-histórico e cultural sobre a história do assentamento e das famílias que o compõe, por meio da exposição fotográfica, de palestras, vídeos sobre o assentamento, e outros artefatos que fazem parte da história de luta, sofrimentos, derrotas e conquistas, bem como, relatar como vivem as famílias que formam o Assentamento 30 de Maio atualmente. Pretende também demonstrar os benefícios econômicos e culturais que o assentamento trouxe para Charqueadas, contribuindo com o desenvolvimento do município e em defesa  dos princípios de uma sociedade mais justa e fraterna para todos. Com isso, pretende-se fortalecer o sentimento de cidadania, recuperar a história de vida do Assentamento 30 de Maio e valorizar a herança cultural e identitária das 46 famílias que há 18 anos adotaram o município de Charqueadas para construir sua história de vida e trabalho através do Assentamento 30 de Maio.

Visitar o Memorial do Assentamento 30 de Maio, representa fazer uma viagem a um passado recente, que procura estabelecer relações entre a vida no campo e a luta pela dignidade humana de quem se humilhou e sofreu para conquistar um pedaço de terra de forma legítima, ou seja, assegurada em lei pela constituição brasileira. Durante as visitas organizadas, um membro do assentamento sempre está a disposição dos visitantes para explicar a história e a saga das 48 famílias que, com suor e muita luta, fundaram o Assentamento 30 de Maio. O Memorial tem uma exposição de fotos ampliadas seguindo uma ordem cronológica de tempo,  exposição de objetos, artefatos e documentos que as famílias preservaram ao longo dos anos como valor histórico e sentimental. Além do que já foi dito, o Memorial tem uma representabilidade valiosa para os grupos e segmentos sociais que semanalmente visitam o Assentamento com o objetivo de conhecer a história de trabalhadores e trabalhadoras rurais que, durante anos lutaram em busca de realizar o seu sonho, ou seja, em busca da conquista de um pedaço de terra. Também funciona como um valioso instrumento que irá facilitar a visualização e o entendimento do processo sócio-histórico da luta e da conquista legítima da terra e da organização do Assentamento 30 de Maio, símbolo de orgulho para a comunidade Charqueadense. A organização de eventos culturais de forma isolada ou em parceria com as Secretarias Municipais de Cultura; Educação; Economia  Solidária e ou Qualidade Ambiental também fazem parte dos trabalhos desenvolvidos como forma de retorno social ao investimento financeiro realizado pelo Fundo Municipal de Cultura de Charqueadas. Para citar a importância cultural do Assentamento 30 de Maio, basta nos reportarmos ao ano de 2002, quando, durante a realização do III Fórum Social Mundial, ocorreram oficinas pedagógicas e debates com a presença de personalidades internacionais como a médica Aleida Guevara, filha de Ernesto Che Guevara, o ambientalista francês José Bové, e a representante das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, para o lançamento da campanha “Sementes, Patrimônio da Humanidade”.

Na época, a Via Campesina escolheu o Assentamento 30 de Maio para construir o “Bosque da Luta e da Solidariedade”, e para o lançamento da campanha “as sementes são patrimônio da humanidade”. O evento aconteceu em 26 de janeiro, durante o III Fórum Social Mundial. Mais de dois mil presentes, entre camponeses e apoiadores da Via Campesina, assistiram aos depoimentos em defesa da preservação das sementes e contra a apropriação dos recursos genéticos da humanidade por empresas multinacionais. Rafael Alegria (Via Campesina), José Bové (Confederação Camponesa da França), Hebe Bonafini (Mães da Praça de Maio) e a internacionalista Aleida Guevara falaram aos participantes.

Durante o ato, sementes foram distribuídas aos participantes e árvores foram plantadas, representando os cinco continentes. Os presentes participaram de um almoço de confraternização com produtos dos assentamentos de reforma agrária. O intelectual norte-americano Noam Chomsky (MIT - Instituto de Tecnologia de Massachussetz) foi um dos participantes do lançamento. Chomsky também plantou uma árvore no Bosque da Solidariedade e da Luta e comparou a situação vivida pelos camponeses na Colômbia como “um lugar onde não há o MST”.

Gestão democrática da instituição

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Pio XII, apesar de estar localizada no centro da cidade de Charqueadas, sempre procurou manter uma proximidade com o Assentamento 30 de Maio e a Escola Rural de Ensino Fundamental Incompleto São Francisco de Assis, localizada dentro do Assentamento. Foi a Escola Pio XII que acolheu os 22 alunos assentados no sentido de certificá-los após o término do Ensino Fundamental. Reconhecendo a importância do meio rural para a sustentabilidade do meio urbano, a Escola Pio XII, através de sua gestão democrática e participativa, está sempre procurando desenvolver projetos que possam contemplar, alunos do meio urbano e da escola rural, no interior do Assentamento.

Recentemente, foi proposto um novo projeto pela Escola Pio XII com a intenção de levar alunos do meio urbano para a escola rural, a fim de aprenderem e desenvolverem noções de desenvolvimento sustentável na teoria e na prática, contando com a colaboração dos 22 alunos jovens e adultos do assentamento.

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